OLHARES CRIADOS PROVIDÊNCIA
Julho 2020 - Na PROVIDÊNCIA
Entrevistas de moradores e participantes da Casa Amarela sobre a pandemia do Covd19 e trocas sobre o território.
Fotografias Douglas Dobby / Entrevistas Ernane Ferreira
Fotografias Douglas Dobby / Entrevistas Ernane Ferreira
Aisha é amorosa, colaborativa e alegre. Integra o nosso grupo chamado « Jardim com Arte », que contempla crianças entre 3 e 7 anos.
Aisha não deixa a sua timidez lhe impedir de participar de tudo que a Casa oferece, e adora a aula de teatro e de dança.
Entrevista - “Oi gente! Hoje eu moro aqui no Morro da Providência, [na Casa Amarela] aprendi a fazer meus deveres e respeitar os meus amigos. O que foi ruim foi ter que botar mascarás nessa pandemia do Coronavírus, tem que passar álcool em gel!
Me aprenderam a fazer o dever, vocês são muito legais [Casa Amarela].
Quando a Casa Amarela voltar, eu vou aprender aos meus amigos pequenos a fazer o dever. Eu sinto mais saudade da Casa Amarela, gostava das frutas.”
Chiquinho é super articulado e determinado com seus objetivos. É um dos jovens mais dedicados, é integrante do Coletivo Jovens da Lua na Casa Amarela. Inscrito em mais de 6 atividades semanais, ele é um sujeito importante para inspirar esse grupo, sempre com alta produtividade, trazendo questionamentos para os seus professores e buscando disciplina. Nesses últimos anos ele trouxe ideias e projeto, incentivou e impulsionou um grupo de jovens, atuando como líder e respeitando o tempo de cada um dos seus companheiros.
Também, o Chiquinho é muito presente nas redes sociais, fã da Anitta, sempre se comunica com os nossos voluntários e visitantes no Instagram - o sonho dele é ser empresário musical!
Ele concluiu com sucesso um curso de empreendedorismo na Casa Firjan e um estágio de marcenaria na Fábrica Bhering ano passado, e está em busca constante de aprendizados teóricos e práticos sobre a vida e suas grandes possibilidades.
Durante essa pandemia, o Chiquinho está fazendo aulas online semanais de inglês com uma professora particular voluntaria, e faz parte dos quatros jovens que iniciaram um intercâmbio cultural com o Brooklyn Museum, com foco inicial de compartilhar com outros alunos de Nova York sobre a sua vida, e isso tudo em inglês! Ficamos muito felizes com a sua escolha de caminhar conosco, construindo essa brilhante trajetória.
Entrevista - “Eu aprendi bastante coisa na Casa Amarela e estou usando essa quarentena também para me lembrar das aulas que aprendi, aula de culinária, curso de fotografia, informática e pretendo levar bastante coisas para minha vida, como os curso de empreendedorismo que eu fiz.
[O que foi desafiador durante a pandemia foi] a falta de energia as vezes, também os lugares fechados aonde você quer comprar alguns matérias para implementar nos trabalhos e tá fechado não tem aonde você comprar.
A Casa Amarela está me ajudando bastante nos quesitos de aprender coisas novas, de imprimir trabalhos e […] estou usando muito a quarentena para aprender tipo fazendo aulas de inglês.”
Marcia é uma mãe incentivadora, dessas que estimula os filhos a se desenvolverem e praticarem o que gostam. Reflexo disto é que seus filhos são os mais assíduos em nossas atividades, sempre presentes e participativos, demonstrando ampla habilidade em tudo que se colocam a fazer, o incentivo materno está ali sempre muito forte e presente. Ela tem personalidade firme e sempre se posicionou e recorreu da melhor forma na busca de um caminho ideal para os seus filhos.
Conosco já estudou costura, mais é autodidata em várias coisas, acumula habilidades. Auxilia em organização de festas, cuida de crianças e se desdobra para conseguir o que precisa.
Marcia é o exato perfil de mulher que dribla um sistema todo estruturado para contê-la, ela é mulher, preta e favelada. Ainda assim com tudo ela avança motivada pelos filhos, desejando e batalhando para eles oportunidades que lhe faltaram, este é seu estímulo diário para confrontar o sistema.
Entrevista - “Eu aprendi a costurar [na Casa Amarela] e queria muito que voltasse [a ter essa aula]. Estou agoniada de ficar em casa, as crianças também, não podemos ir para lugar nenhum.
Essa pandemia foi muito forte, não deixou a gente ir para lugar nenhum mesmo.
Eu gostou de vocês [a Casa Amarela], vocês me ajudaram bastante com cesta básica, cartão [de alimentação], e eu acho triste porque agora fechou e a gente não pode ir para lá, e essa pandemia está muito chata! [Sinto mais saudade] de fazer costura, e quando voltar vou fazer yoga e vou ficar firme forte lá!”
Kauã é certamente um dos Erês mais assíduos da Casa, desde o primeiro momento em que pisou nela.
Muito talentoso, desenha lindamente e já faz parte do grupo de estudos do professor Cazé, no qual ele é a única criança !
Também faz parte da turma de dança Afro e se apresentou no espetáculo do ano retrasado, protagonizando um dos Orixás. Desde o início da pandemia, ela está inserida no nosso programa de reforço escolar à distância, além de participar da campanha da escola de artes visuais do JR em Paris, Ecole Kourtrajmé.
Figura forte dos Erês, inteligente e alegre, o Kauã representa !!
Entrevista - “[Estou com saudades de] dançar, estudar, ir para escola e jogar bola.
A Casa Amarela ajudou [durante a pandemia] com aulas online e cestas básicas.”
Aluno sincero e responsável, ele veio trazer uma espontaneidade para o grupo dos Jovens. Ele se apaixonou rapidamente pelos trabalhos de arte ao redor da aquarela, pintura e também bordado e macramê. Ele acrescentou bastante no trabalho feito no Coletivo Jovens da Lua, criando materiais para serem vendidos na lojinha do Coletivo Jovens da Lua, na qual rever 100% das vendas para o coletivos dos jovens.
Ele é um aluno inicialmente reservado que vem se descobrir como aliado de todos os meninos jovens participando nas aulas da Casa Amarela, onde juntamente, vem se desenvolvendo, construindo um caminho de um crescimento muito positivo. Esperamos ver sempre mais da parte do Vitor porque sabemos que ele consegue chegar num lugar de fala e de presença aonde poderia se tornar um líder positivo para o restante do grupo. Ficamos muito felizes com a sua escolha de caminhar conosco, construindo essa brilhante trajetória.
Entrevista - “[Na Casa Amarela] aprendi a desenhar, e a ter respeito. [Estou com saudades de] sair para rua para se divertir e estudar.
A Casa Amarela ajudou a gente mandando desenho para gente pintar, ligações online.
[Assim que a Casa Amarela voltar] Pretendo voltar a fazer macramê e fotografia.”
Um ser político, em referência a uma fala dita por ela mesma em uma de suas aulas quando explicava a importância de posicionamento e compreensão política a um adolescente, “Todos nós somos seres políticos, e precisamos ter consciência disto para compreender como acessar as estruturas do sistema e ocupar os espaços”. A violinista e administradora da Orquestra de Rua, sabe bem sobre o processo de ocupação de espaços. Ela ocupou seu lugar na música erudita, gênero excludente para uma mulher preta e favelada, subverte o ritmo resignificando as músicas da nossa cultura e as levando a lugares que não foram pensados para estes gêneros e esta mulher, exercendo assim o seu papel de ser político possibilitando que o sistema se adeque e reconheça a importância e grandiosidade das culturas de favela, bem como o talento e capacidade produtiva dos moradores de comunidade. Em seu cavalo de Tróia leva a sofisticação que eles querem e a representatividade que nós precisamos.
Entrevista - “Eu sou a Glaucia, estou graduando de licenciatura e música na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, sou violonista, professora voluntaria da Casa Amarela e administradora da Orquestra de Rua. O meu maior obstáculo [durante essa pandemia] foi a questão financeira porque tudo mundo na minha família perdeu o emprego, e como não posso trabalhar durante a pandemia por caso da questão de plateia e da questão também que tocava na rua, no metro e isso dificultou muito a nossa questão financeira. Então a gente está extremamente apertada até porque eu moro de aluguel, então estamos sem saber nem que a gente vai comer mês que vem, como a gente vai viver! [A dificuldade é] também a questão dos meus alunos, porque a gente não está acompanhando eles, eles vão regredir muito nesse período, aí tem que recomeçar tudo de novo, o que fica chato tanto para eles como para gente que está dando aula.
[Os meus maiores obstáculos e desafios durante a pandemia foram que] projetos como a Casa Amarela, e números de atividades culturais que acontecem aqui no Morro e professores como a gente que atua nessa area fecharam. Nós somos muito importante porque pensa, se a gente já tem enormes problemáticas em dias como os que não tem pandemia, você imagina na pandemia aonde a gente não está podendo atuar de forma efetiva, 100%. Acaba que muitas coisas são deixadas de lado, coisas que são essenciais, tanto para a vida dos jovens que estão participando, tanto como a nossa vida.
O que eu sinto mais saudades no meu território é ver muitas pessoas na rua, de dar aula para muitas crianças numa sala, o que era super divertido, de ver muvuca tipo sextas feiras com tudo mundo curtindo. No meu trabalho [sinto mais saudades] de tocar na rua, de ter contato com público, de poder falar com as pessoas, as pessoas poderem se emocionar com o que a gente faz, tomará que volte logo!
A primeira coisa que vou fazer quando acabar a quarentena é dar um abraço nos meus alunos, porque eu sinto muita falta do contato com as pessoas e sair correndo e voltar para faculdade!”
@glaucia_maciel @orquestra_de_rua
Menina esperta, participa de quase todas as atividades sempre com muito entusiasmo.
A Larissa gosta de teatro, de dança, de sapateado, de batalha de tabuada, que sempre ganha, e de culinária. Desde o início da pandemia, ela está inserida no nosso programa de reforço escolar à distância e é muito dedicada, além de participar da campanha da escola de artes visuais do JR em Paris, Ecole Kourtrajmé.
Alma de artista, ela faz parte do Cortejinho Providência que em breve se apresentará ao mundo, assim como a dança Afro, o Hip-Hop e Passinho. Larissa é muito braba !!!
Entrevista - “O que aprendi na Casa Amarela foi que a gente tem que respeitar o próximo, nunca olhar para trás e sempre seguir em frente nunca parar e a gente aprende também a se [sentir] bonito.
[Estou com saudades de] abraçar, poder dar as mãos e também poder ir para escola
[A Casa Amarela] me ajudou quando estava triste [mandando aulas online de] dança afro, a Casa Amarela para mim era tudo, e é tudo ainda.
Sinto saudades da dança afro, e da Casa Amarela, quando voltar vou abraçar todos os tios, brincar com quem não estou vendo ainda, e também vou fazer muita pintura.”
Richard é esforçado, sempre buscando excelência adquirindo mais conhecimentos, com sua maneira observadora de ser. Nessa pandemia, mesmo sem receber deveres da escola, ele se responsabilizou e dedicou com aulas particulares de reforço escolar, e inglês online com os nossos voluntários.
Sonhando em ser chefe de cozinha, ele iniciou em junho 2019 um estágio com o chefe Ricardo Freitas na Fábrica Bhering. Graças a sua dedicação, ele foi convidado à ser um Jovens Aprendiz, acrescentando cada vez mais o aprofundamento na culinária, aprendendo disciplina e responsabilidades dentro de uma restaurante e de uma cozinha.
O Richard é um aluno muito presente na Casa Amarela, focado e fazendo parte dos alunos que traz os jovens para frente, mostrando um exemplo inspirador para o grupo. Ficamos muito felizes com a sua escolha de caminhar conosco, construindo essa brilhante trajetória.
Entrevista -“Eu aprendi na Casa Amarela culinária, fotografia e respeitar o horário, chegar no lugar certo.
[O que foi desafiador durante a pandemia foi] toda hora queda de luz, não ter internet para fazer nossa aula online, e não fazer o meu estágio.
[Na Casa Amarela] estão me ajudando na escola nos meus valores, e estão me ajudando nas minhas responsabilidades.”
Uma história de representatividade através das danças, pretas urbanas e periféricas. Juliana fundou a primeira Cia. de Hip Hop do Morro da Providência, o Efeito Urbano, que hoje também atua fortemente como ONG. Este Grupo gerido em todos os seus processos por mulheres pretas e faveladas, é uma potência representativa por dar visibilidade e traduzir a força deste recorte social, o de mulheres pretas no comando e na ação de coletivos de danças urbanas.
Em sua trajetória assumindo a proposta de resistência que embasa a cultura Hip Hop, direcionou sua força de trabalho para os seus, dentro da comunidade onde segue com o propósito de falar, discutir e questionar o social através do corpo e suas narrativas.
Junto a nós ela desenvolve um belíssimo trabalho oriundo de suas pesquisas, onde preserva o diálogo com as bases das danças urbanas pretas, enaltecendo o charme, os movimentos da velha guarda do hip hop, além de criar um elo construtivo com o funk contemporâneo, desmistificando o senso que deduz a marginalização do ritmo. O lugar que juliana vem colocando seu trabalho em nosso projeto é o de valorizadora cultural quando ensina e reafirma a importância de preservar e sobretudo valorizar as nossas bases, principalmente se referindo a danças pretas que tem se desdobrado em diferentes possibilidades e estilos, mais que não deve jamais perder a sua essência.
Entrevista - “Meu nome é Juliana Melo, eu sou moradora do Morro da Providência e eu tenho muito orgulho de dizer que tenho formação em projetos sociais.
O que funciona como mentora para minha vida? Eu fiquei pensando nisso uns dias atrás sobre o que eu absorvo nos projetos onde eu colaboro como professora, como mulher, como favelada do território e aprendendo a não desistir. Eu aprendo a não desistir todos os dias.
O como é importante a Casa Amarela, o como é importante o Instituto Efeito Urbano, a gente cria essa forca de caminhar juntos nesse momento de pandemia, de criar relações externas também com outras grandes instituições. Eu estou falando como Juliana, co-fundadora do Instituto Efeito Urbano, sobre essa importância que temos nós, o Instituto Efeito Urbano, e a Casa Amarela, pelo nosso território, durante esse momento de caos, de dificuldade, onde os nossos moradores, o nosso povo precisa do nosso suporte, precisa do nosso apoio. Por isso que acredito na importância que essas instituições tem, a força que a gente tem junto, e o quanto a gente pode ser forte juntos ajudando a nossa comunidade, os nossos alunos, sendo um suporte. A gente enfrenta com varias dificuldades, com vários obstáculos, principalmente quando a gente fala de periferia e favela, então é muito importante ter instituições como essas dentro dos seus territórios.
O que eu mais sinto saudades é de abraçar todas as pessoas, todos meus alunos, de ter essa força energética que a gente tem com os nossos alunos em todos os projetos que eu dou aula. Eu sinto muita falta, a gente acha que só ensinamos mas aprendemos muito com eles, então sinto falta de abraçar todos, de trocar energia, de trocar aprendizados.
A primeira coisa que irei fazer quando a pandemia acabar é tirar as mascarás, parece até um movimento de libertação, e reciclar essas mascarás. A gente não pode esquecer esse momento que o universo nós trouxe, que os nossos ancestrais nós trouxeram de aprendizado. Ele [o Universo] está gritando para que a gente tem empatia para o próximo, empatia pelos nossos, porque a mascará se eu uso eu protejo o outro, se ele usa ele me protege. É essa questão de bom senso, da empatia, do coletivo, de trabalhar juntos. O Universo está gritando que o ser humano se una, e vamos ver se a gente consegue aprender isso, algo que as crianças nós ensinam muito! A gente só construe junto!”
@mellojuuh96 @efeitourbano
Gustavo é um aluno novo na Casa Amarela. Ele fazia atividades quando era pequeno, e voltou a frequentar agora como adolescente. É extremamente focado e dedicado nas atividades que ele escolheu fazer. Ele prioriza nos seus trabalhos a qualidade e não na quantidade, por isso ele somente escolheu atividades com culinária, inglês e macramê que trazem felicidade e aprendizados para ele.
Durante essa quarentena, o Gustavo nos surpreendeu com uma dedicação grande pelas suas aulas particulares de inglês online, marcando presença nas ligações semanais que realizamos com todo coletivo. E continua conquistando a nossa admiração pela pureza e o amor que ela traz através da sua presença. Ficamos muito felizes com a sua escolha de caminhar conosco, construindo essa brilhante trajetória.
Entrevista - “Na Casa Amarela eu aprendi muitas coisas, aprendi meu inglês, aprendi a ter respeito com meus pais, meus amigos e na Casa Amarela estou aprendendo muito mais!
A pandemia fez muitas coisas, agora parei de ir para escola, parei de curtir, de ir para praia, parei de ir para o futebol, […] só fico dentro de casa agora.
Eu sinto falta da aula de arte e a primeira coisa que eu vou fazer [quando a Casa Amarela reabrir] é macramê.”
É professora de culinária na Casa Amarela, o dom foi passado através da família e hoje ela generosamente compartilha com nossas crianças e jovens suas receitas e técnicas, sempre com muita dedicação e carinho.
Se profissionalizou atendendo a creches e escolas, elaborando grandes menus para festas de estivadores e festividades na favela. Abriu seu próprio restaurante que atualmente se encontra fechado devido a pandemia.
Rosiete foi a principal mediadora entre nossos fundadores JR. e Maurício Ora, viabilizando o contato que deu início a nossa instituição.
Sua histórica é diretamente ligada a construção da identidade cultural do morro e ela mesma participou da construção deste processo. Filha de uma carnavalesca que foi a primeira compositora do Morro da favela, mãe esta que a empoderou e inspirou, tanto que posteriormente se iniciou como carnavalesca também.
Foi rainha dos blocos carnavalescos Coração das meninas e Fala Meu Louro.
No decorrer do processo tomou gosto adquiriu respeito dos companheiros e muita experiência no fazer cultural. Fundou A liga portuária a qual hoje preside. Através da liga executa e desenvolve projetos que possam integrar os diversos recortes do Morro da Providência aos demais locais da Zona Portuária.
Esta querida é parte viva da história da comunidade, é agente transformadora do meio, um arquivo a ser acessado e principalmente respeitado.
Todo nosso orgulho de lhe ter integrando nosso time de professores, e todo nosso respeito pela sua vida e sua história.
Entrevista - “A importância da Casa Amarela na minha vem muito antes da própria construção da Casa Amarela. Assim que o nosso mentor [JR], a pessoa que subiu o Morro, que entrou para dentro da minha casa chegou, isso foi muito importante. Esse primeiro projeto que foi de convidar as pessoas para participar do projeto [Mulheres são Heróis], isso aí já sabia … que ira dar certo, sabe quando você senti, isso a 12 anos atrás! Aí falei, vou ajudar! Apresentei ele para Maurício Hora, fotógrafo local para eles colaborarem. Isso virou uma parceria não só minha com ele mas deles dois, até hoje. No entanto, passando dos anos veio a Casa Amarela. Eu fiz a primeira faxina lá! Botei livros da minha mãe para criar a primeira biblioteca, atendi as primeiras crianças que surgiram e ficaram. Hoje eu estou dando aula para as crianças daquilo que eu mais gosto de fazer que é cozinhar. O que mais me prendeu foi ver os meninos me amostrando os pratos que eles fizeram online no meio de uma pandemia repetindo as minhas receitas! Quer dizer, uma coisa tão simples que você faz com carinho, tanta explicar da melhor forma e eles fizeram e ainda colocaram “Meu pai adorou! Minha mãe adorou!”, Caramba! Eu fiquei muito emocionada. São coisas que a gente vai reproduzindo e ensinando, com um pouquinho de nada a gente faz um bandejão, e come tudo mundo! A alegria que te dá, já vou fazer 60 anos, quantas coisas que eu não fiz e quantas coisas que eu fiz. Eu ajudei na construção da primeira creche comunitária do Morro, eu fui a primeira cozinheira da creche que hoje é a Associação do Moradores. Aquilo ali nós construímos tijolo por tijolo, com apoio, com ajuda. Colocamos lá dentro de 30 a 50 crianças. Eu assumi a cozinha! Tinha dinheiro? Não! Mas ia bater cartão lá tudo dia. Você ao longo dos anos vai aprendendo e ensinando, dando mais consistência para ensinar melhor. E isso prevalece a alma.
Antes de qualquer coisa, quando for liberado, que acabou [a pandemia] e que o povo Brasileiro tem a noção que nada nem mais ninguém vai morrer disso vamos pensar: “Acabou! Acabou!” Eu vou procurar jogar meus joelhos no chão e agradecer a Deus por estar viva, pela minha família sobreviver, e de ter se cuidado o suficiente para não deixar nada de mal acontecer. Não dizendo que as outras não se cuidaram, mas infelizmente perderam a vida. Tenho primeiro que agradecer a Deus pelos meus, pela minha vida e dizer assim: “Muito obrigada, passamos por isso.” Essa é a primeira coisa que farei, porque a gente pedi tanto a Deus mas tem momentos que a gente precisa agradecer.”
Ramon é a criança mais temperamental e querida que você possa imaginar. Sempre presente, tem coração bom e adora criar ! Fissurado em futebol, ele também desenha muito e com certeza criaria um campo de futebol para todos, caso pudesse.
A partir da reabertura da Casa, ele se tornará assistente oficial do Vinicius Martins, nosso professor de Skate, e levará a turma para treinar na Vila Olímpica.
Também participou do projeto com escola do JR Kourtrajmé.
Desde que frequenta a Casa Amarela, construímos juntos uma transformação comportamental, que reverbera de forma muito significativa e positiva, o que nos deixa cada vez mais orgulhoso e seguros que estamos no caminho certo!
Entrevista - “Aprendi na Casa Amarela a fazer dever, a pintar, a brincar, a ensinar as crianças a não xingar, a ter respeito, e muita mais coisas.
O maior problema [da pandemia] foi ficar sem ir para escolar e ficar sem internet boa.
A Casa Amarela me ajudou a comer [durante a pandemia], se não fosse a Casa Amarela estava sem comer até hoje.”
Raiana iniciou as aulas na Casa Amarela desde muito pequena, construindo seu percurso também conosco, ela é hoje uma adolescente em busca de si mesmo, ela é sem dúvida uma aluna caracterizada pelo seu forte temperamento e pela sua potência como uma pessoa que enfrenta todos os desafios da vida. O sonho dela é trabalhar na marinha.
Ela é amorosa, e sempre que possível demonstra entusiasmo em colaborar com o coletivo. Ela marca presença nas aulas de arte terapia para jovens mulheres na Casa Amarela, ela demonstra uma vontade de se conhecer e se perceber melhor.
Ela participou do projeto Jovens da Lua Aprendiz, fazendo um estágio na Casa Voa, casa artística e cultural na Gávea, aonde ela apoio na produção e montagem de uma exposição de arte somente de mulheres. A Raiana é uma jovem mulher forte e potente!! Ficamos muito felizes com a sua escolha de caminhar conosco, construindo essa brilhante trajetória.
Entrevista - “O que aprendi na Casa Amarela foi ter responsabilidade pelas coisas que escolhi.
[A Casa Amarela trouxe durante a pandemia] aulas de inglês, ajudou nos deveres de escola e nas cestas básicas que estavam dando.”
Um lutador que ensina lutar, não apenas por compartilhar seus conhecimentos e técnicas como pugilista, mais por estender este olhar, sagacidade e consciência desenvolvidas nos ringues de boxe para função de ferramenta pedagógica enquanto agente de transformação pelo esporte.
As regras que permeiam as engrenagens do esporte como, disciplina, coletividade e competitividade saudável, são convertidos em fundamentos que promovem ganhos muito além da capacidade física em suas aulas voltadas para jovens e crianças dos projetos que atua.
O mestre é um caso clássico e recorrente de sucesso das mães solo, destes que resultam em um homem totalmente empático solidário e ativo as causas femininas. Justamente por ter sua formação de caráter construída por uma mulher forte, a confiança total no potencial feminino é mostrada no coletivo feminino de boxe, onde é ministra uma aula totalmente pensada para as mulheres do morro.
Ele estimula a prática do esporte em seu território apesar das dificuldades presentes, corre como pode no serviço de moto-táxi para complementar os gastos. O cara faz jus ao título de lutador.
Entrevista- “Meu nome é Erivan, sou treinador de boxe, sobrevivo dando aulas particulares, aulas coletivas aqui no centro de treinamento que fica no Morro da Providência e também dou aula em projetos sociais como a Escola de Boxe Eduardo Cardoso e faço parte também da Casa Amarela, dando aulas para os jovens, crianças e mulheres.
Meu maior obstáculo durante a pandemia está sendo a minha renda familiar, até porque eu sou autônomo, sobrevivo disso [aulas de boxe], porém tive que arrumar outra saída que é trabalhar como entregador, moto-taxi, inclusive fazendo varias corridas para Casa Amarela quando precisa, especialmente durante essa pandemia. Estou sempre sendo beneficiado também através disso. O desafio é também de se adaptar as novas regras, que foi bem difícil para mim.
O que eu trouxe muito para minha vida, para meu dia dia, é a questão da união, pelo fato de dar aulas para crianças. Apresar deles serem bem novos, eles são bem unidos. Tem certos momentos que eles estão discutindo, mas do nada se você fala algo contra eles, eles se unem. É uma coisa que eu carrego muito comigo, é a união e alguns valores também que a gente vivencia e aprende diariamente com eles como humildade e adversidade.
O que eu mais sinto saudade é das aulas mesmo, poder estar interagindo com as crianças, das brincadeiras, das broncas e não só eu estou com saudade, como sinto que também elas estão com saudade. Eu ando no Morro passando de moto e sou parado umas cinco vezes, eles me perguntam. Hoje mesmo Miguel [aluno da Casa Amarela] me viu na Barrão [área na Providência] e me perguntou quando irá voltar as aulas de boxe na Casa Amarela. Assim como eu estou ansioso para essa volta, esse retorno, eu acredito que eles também. Assim que eu voltar, vou volar com 100% para estar junto novamente com eles!”
@erivanfeitosaboxing @escola_de_boxe_eduardo_cardoso
Sophia é animada, cuidadosa e demonstra um temperamento que reforça sua personalidade forte, que podemos constatar na sua interação no teatro, na dança, no sapateado e atividades esportivas também !
Integra o nosso grupo chamado « Jardim com Arte », que contempla crianças entre 3 e 7 anos.
Entrevista - “Aprendi a fazer as bolinhas [de malabarismo] e pintar [na Casa Amarela]!
Não teve nada que me atrapalhou [na pandemia], gostei de ficar em casa, gostei de brincar em casa, gostei de fazer tudo em casa!
Sinto saudade de brincar, de pintar e de fazer aquelas bolinhas.
[A Casa Amarela] me deram umas atividades a fazer em casa, me ajudaram a pintar e me acompanharam.”
Membro ativo do grupo dos Jovens da Lua, Lucas tem essa personalidade que te faz sorrir sempre. Ele traz alegria e felicidade pelo lugar aonde passa, e se dedica nas escolhas dele.
Ainda em busca do melhor caminho para a realização dos seus sonhos, ele se descobriu com dançarino na Casa Amarela. Ele participou nas aulas de dança afro, e hoje é mais focado nas aulas de dança hiphop, as quais ele está sentindo mais falta durante essa pandemia. O Lucas está a caminho de ser um grande talento artístico e sabe o quanto precisa se dedicar para alcançar seus sonhos, pois acredita em si. Ficamos muito felizes com a sua escolha de caminhar conosco, construindo essa brilhante trajetória.
Entrevista - “[Aprendi a] Não ter preconceito racial na Casa Amarela.
Ter ficado sem estudar, sem dar abraço no amigos também foi difícil, ficar sem sair, estou com saudade de tudo isso mesmo
[A Casa Amarela me ajudou] passando atividades para passar o tempo, par não ficar o tempo tudo em casa, dando aulas de inglês online, mandaram atividade de aquarela.
[O que mais sinto saudades são] as aulas de hiphop.”
Arlaine tem 3 filhos os quais cuida com muito carinho, repassando valores fortes baseados na educação e respeito. Antes de ter sido colocada à prova pela pandemia já trabalhava como balconista e sempre dedicou seus esforços financeiro e amorosos para a sua família. Ela procura ser um espelho positivo para seus filhos, inspirando dedicação compreensão e cuidado. Em seus aprendizados na Casa Amarela seja no artesanato, culinária ou maquiagem, se aplica com muito respeito e assiduidade, aproveita cada momento das aulas potencializando ao máximo seus estudos.
Arlaine é parceira e esta característica específica é a marca registrada de sua personalidade que se expande e transforma seu território e todos os que compartilham do seu convívio. Ela vive uma trajetória de lutas e vitórias, sabendo dar o tom da leveza as coisas de forma que consiga seguir leve a caminhada.
Entrevista - “[O que sinto mais falta na Casa Amarela é] o curso de maquilagem, o curso de culinária também foi muito bom, estou usando ele durante a pandemia, [esses cursos] estão sendo muito importantes.
[O que foi desafiador durante a pandemia foi] o trabalho, mesmo trabalhando de carteira assinada foi difícil! Fiquei dois meses sem receber. Como eu fiquei sem trabalho, a Casa Amarela me deu assistência tanto no alimento como em sabão [produtos de higiene].
Quando a Casa Amarela voltar quero fazer aula de boxe, sinto muita saudade!”
Claudinha é uma menina muito inteligente e animada que não para nem um segundo !
Sempre presente e participativa, também costuma ser uma das vencedoras das batalhas de tabuada e das aulas de inglês. Adora as atividades relacionadas a artes cênicas também e não perde uma aula de teatro ou de dança.
Mas se tiver uma atividade de jardinagem e reciclagem, ela também faz pois entende a importância de cada oficina e seu impacto no auto-conhecimento. Quando venceu a sua primeira batalha de tabuada e soube que poderia escolher um brinde, nos pediu canetas coloridas para poder fazer os deveres de casa e outras coisas em casa. Dedicada e decidida !
Também faz parte do Cortejinho Providência como percussionista, e tem ritmo viu !
Entrevista - “[O que aprendi na Casa Amarela é] o combate ao racismo.
[O que foi desafiador durante a pandemia foi] não poder ir para Casa Amarela, não poder ir para escola e nem se divertir.
A Casa Amarela me ajudou nas atividades artísticas e nos deveres de casa.
[O que sinto mais saudade] é minha aula de inglês, e quando voltar quero voltar a dançar!”
FAVELADO, assim ele se define se reapropriando do termo e tornando a palavra símbolo de poder. O musico que ministra aulas na Casa Amarela é um espelho para seus alunos seja pela metodologia de ensino ou por suas ações representativas. Participa de projetos ao redor da comunidade integrando e valorizando os movimentos culturais de seu território.
Gilbert dá destaque as suas características ancestrais se afirmando como um ser preto ativista na música.
Ele sabota o sistema quando não corresponde as expectativas negativas que são geradas sobre um homem como ele.
É músico, educador mais acima de tudo é preto e favelado e o poder positivo da ressignificação destas palavras são a tônica de sua caminhada.
Entrevista - “Eu sou Gilbert, favelado, morador do Morro da Providência, estudante de música, sou violinista e professor em formação.
O que absorvo da experiência de estar dando aula e o que tem praticado bastante em tempo de pandemia é o aprendizado diário, porque a gente tem que estar sempre preparado, apto a aprender. As vezes as gente chega com intenção de ensinar, e o aluno vai falar uma coisa que vai despertar outro pensamento e aprendemos com eles naquele momento. Quem está pronto para ensinar, acaba aprender muito ao mesmo tempo. Como professor sempre estou buscando esse aprendizado com meus alunos.
O maior desafio dessa pandemia para mim foi o processo criativo e estar se readaptando às coisas, estar aprendendo muito com a tecnologia, estamos tendo que aprendo muito rápido para continuar trabalhando e estar mudando a sua forma de trabalhar, estar se reinventando sempre.
A arte a gente acaba vendo que ela é uma coisa fundamental, que gente consegue estar aí sobrevivendo sem muitas coisas, mas sem a arte é uma coisa impossível. A arte, a música no meu contexto, é uma coisa que aprendi, como professor, a tirar lições de vida, não somente lições musicais. Meu professor é um mestre que passa as coisas para gente de uma forma que os ensinamentos servem para vida. [A arte] ajuda a se tranquilizar, a praticar memória, a acessar de alguma forma seu lado artístico e criativo.
Assim que a pandemia acabar vou para uma roda de samba, comer uma feijoada, tomar uma caipirinha, uma cerveja gelada e abraçar muito! É o que mais sinto saudade de fazer, sentir esse contato com as pessoas.
Sinto saudades da rotina, tenho uma rotina muito corrida, e estar parado é uma coisa bem difícil. Quero voltar a abraçar, dar beijo, a gente tem tido uma relação muito fria ultimamente. Saudade de um sorriso com olhar, uma cotovelada, sabe aquele calor do abraço!”
@guiilbert7
Caíque é discreto mas confia na Casa e em tudo que ela oferece. Sempre muito respeitoso e pronto para nos ajudar.
Mais atraído pelas atividades esportivas, ele é o aluno mais assíduo do Mestre Erivan e já ganhou suas luvas para poder praticar sempre que puder. Por sinal, já luta muito !
Também faz parte do Cortejinho Providência, no qual toca tamborim, mas se rolar um trompete, ele se joga também !
Sempre alegre, curioso e sereno, também participa das aulas de inglês, e de vez em quando se arrisca no teatro e na dança, na qual ele arrebenta !! Aula de passinho e Hip-hop é com ele mesmo !
Entrevista - “Eu aprendi a ficar mais calmo e a tocar violino [na Casa Amarela].
[O que sinto mais falta é] não poder ir para escola e não poder se divertir.
[Eles me ajudaram dando] aulas de reforço escolar e materiais.
[Quando a Casa Amarela reabrir] irei voltar a fazer boxe.”
Personalidade forte, gosta e ensina aos seus filhos disciplina como forma de lidar com a vida, esta é a formula que lhe foi aplicada e ela reaplica aos seus filhos estando sempre atenta e zelosa.
Sua experiência na Casa Amarela está totalmente atrelada a de seus filhos, no acompanhamento diário, no estimulo para que alcancem resultados nas atividades e em suas escolhas.
Há um bom tempo trabalha com limpeza e através de seu ofício desenvolve uma família estruturada e bem organizada, onde se preza principalmente pelo êxito nos estudos e conduta honesta para com todos. Luciana se realiza quando observa e acompanha as realizações de seus filhos principalmente na vida profissional. É um forte exemplo das matriarcas do morro, traz consigo a força e o olhar amplo da liderança feminina.
Entrevista - “[Na Casa Amarela] Eu aprendi a ter mais paciência com meus filhos, porque meus filhos são pessoas difíceis, são adolescentes e estou levando para mim, tentando melhorar cada dia mais um pouco. Aprendi muitas coisas na Casa Amarela, [como] a ter paciência porque sou uma pessoa muito difícil, complicada, e aprendi a ter confiança nas pessoas da Casa Amarela. Todos os professores, gosto muito deles, aprendi a ter confiança neles, não tem outras pessoas que eu não possa ter confiança.
Durante a pandemia, muitas pessoas ficaram desempregadas, a gente tive que se adequar a novos estilo de vida, a gente tive que se adaptar a usar mascará. Eu perdi meu emprego! Vai fazer [quase] um ano que a gente está com esse negócio [Covid19] no Rio de Janeiro!
A Casa Amarela nesse processo tudo foi nossa força, nosso braço direito! Se não fosse a Casa Amarela, muita gente hoje em dia não teriam seu alimento dentro de casa, não aprenderiam a se educar, porque a Casa Amarela forneceu tudo que nós precisávamos durante essa pandemia, até alimento trouxeram para gente!
A primeira coisa que pretendo fazer quando a Casa Amarela voltar é deixar os meus filhos ao cuidado da Casa Amarela, com os professores que são super gente boa e pretendo também EU fazer um curso lá porque a Casa Amarela é TUDO na vida de todos nós.”